Hoje acordei com uma dor estranha. Nao era nada
fisico, mas uma dor indefinida, na regiao do torax.
Imediatamente pensei que fosse gases... ou estomago,
ou um pouco de febre... nada. Tomei um comprimido e fui para o meu rotineiro
dia. Eu sabia extamente onde estaria, o que estaria fazendo em cada minuto
entre as sete da manha e as tres da tarde. Tudo programado!
O mau estar continuou; nenhuma melhora.
Li outro dia sobre os sentimentos do Hoje: é a visita
ao Passado gerando saudade ou a ansiedade pelo Futuro...
Tudo bem! Eu concordo plenamente. Contudo quando o
presente tá uma merda, e a gente nao quer continuar com essa merda toda, onde
vamos procurar o erro? No passado. O que eu devo mudar? Ninguem explica como...
cada um que procure sozinho. E eu estou procurando. Estou vasculhando a merda
toda para saber de onde vem... onde foi que eu entrei no vaso sanitario?
Uns vao me dizer: falta gratidao... tudo bem. Concordo.
Quem agradece pela merda toda, exceto aqueles que estavam com uma enorme prisao
de ventre...
Quando voce tem consciencia de que estava fazendo tudo
certinho... e puft! Tudo muda, é merda... uma diarreia so. O que aconteceu?
O susto é grande... a fossa estourou!
Porra! Eu tava produzindo tudo isso e nem me dei conta! Tai, vai ter que buscar
o erro no passado.
Hoje estou me sentindo entalado, o peito lotado, uma
misturada toda.. e saudade... saudade doida. Saudade doída! – Parece aquele
cheirinho estranho antes da catastrofe... ou nao?
Sabe quando me senti assim antes? Quando estava sendo
traída em minha confianca. Quando estava sendo usada pelo sistema. Olha o
cheirinho avisando que ta tudo entupido! – Cuidado!
Sabe quando me senti assim antes? Quando eu nao podia
fazer nada e sabia que o abismo era inevitavel. – Faltou algo para voce chamar
o limpa-fossa? Ou nao deu tempo? Ou eu pensei que era no vizinho? – Sei la!
Entao... como contornar essa situacao? Entao como
amenizar pelo menos a queda? Preciso de um para-quedas... e a alegria é o
melhor para-quedas que conheco. Porem, estou morando numa cidade melancolica...
bucolica... apesar de ser uma metropole!
Quero minha alegria de novo! – grito. Epa, nao posso
gritar... vai incomodar o vizinho, pois ele nao gosta de barulho e nao vai
entender o que eu estou dizendo... quer permanecer com a sua melancolia
privada. Privada! – Olha a merda ai novamente.
Nao importa o tamanho da cidade, o sentimento tambem
aumenta pois é produzido pelos seus moradores, de hoje e de ontem.
Ta, mas o que diabos tenho hoje?
Tenho saudade do Ceará... do interior do Ceará...
daquelas cidades que a gente se senta numa banquinha do mercado e come uma
panela, um sarrabulho, uma cervejinha ou uma coca-cola meio quente... espumando...
as duas... ou um suco de graviola, de caju, de tamarina... acerola.
Tenho saudade do Ceará ... e de seu dialeto lindo. De
todos os “arre-égua”, “ macho réi”, “cabra safado”, “quenga”, quero botar no
mato toda essa tristeza, quero ir num relabucho, num forro danado, tomar umas
meiotas, comprar um celular na budega do seu Manédafonso! Nossa, tinha
esquecido que todo mundo tem dois nomes... um apelido, uma forma geral de
conhecimento... e vai olhar na carteira de identidade do seu Manedafonso que o
nome dele podera ser Antonio nao sei das quantas.
Tenho saudade das estradas do Ceará! Mesmo que na
grande maioria das vezes estivesse a servico, eu adorava viajar... nao pelo
destino propriamente dito, mas pela estrada mesmo, suas plantas no acostamento,
espinhentas, suas flores de maio. Olha que a estrada é floriada em maio. Linda!
Um verdadeiro jardim que brota das chuvas de marco e abril... tudo verdinho!!!
Tenho saudade do vento, do cheiro do mato, do
marmeleiro, e em julho e agosto, do cheiro das farinhadas... do cheiro da areia
molhada em marco, abril... do cheiro do caju entre setembro e dezembro... de
torrar castanha debaixo do cajueiral, e depois queimar os dedos, quebrando e
comendo quente, ali mesmo, misturada com areia, com casca, ... nunca tive
nenhuma consequencia depois disso.... Saudade do peixe assado na beira d’água,
tratado e temperado na folha da bananeira, e assado ali, fresquinho, pescado na
hora,... eita cará gostoso!
E aqueles caldinhos de tutano depois do forro?- ...
JUNHO! Quadrilhas por todo lado... bolo de milho, pe
de moleque, churraquinho de “gato” pra tira-gosto da pinginha com coca e
limao... as feirinhas nas festas da “santa”, onde se compra todo tipo de
cacareco...
Tenho saudade do meu Ceará!
Já cansei de chorar por causa desta saudade. Ja cansei
de pedir a Deus uma saída... mas eu tenho que ficar é por aqui? – por que? Para
que? – Vai saber!
Acho que vou rezar de novo:
Arre égua, Senhor. Agora ou
vai ou racha, ou as apragata desatarracha; dá uma olhadinha por ai e cuida da
minha terrinha, do meu Ceará, pois um dia eu quero por la novamente andar.
Manda chuva e fartura, manda aqueles fidumaégua pará de engabelar o povo e
melhorar a situacao dos cearenses, cabra macho e mulher bonita! Da uma
brechadinha ai e ve se alivia as dores daqui tambem. Obrigado Senhor, por me
entender. Amém.
Eta saudade fiadumaégua...
mas vou aguentar, num to nem vexado pra tudo se arrumar de vez... vou esperar
naquele la de cima... O grande coroné do povo!